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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Sobre Xamanismo na Umbanda

São muitas as semelhanças e é grande a participação da sabedoria dos povos nativos na Umbanda Sagrada, arrisco dizer que estar dentro do terreiro é tão reconfortante para alguns, pois ativa nossas memórias ancestrais das práticas que deixamos para trás por imposições políticas e religiosas-institucionais, por tudo isso, afirmo: a Umbanda é, sem dúvida, uma forma de xamanismo adaptada aos dias atuais, xamanismo na umbanda sagrada.

Muito se tem falando sobre Xamanismo e de igual maneira, sobre um tal “Xamanismo Ancestral”. Quando tratamos de bruxaria, magia, druidismo, zoroastrismo ou qualquer outra religião praticada por nossos ancestrais, não usamos a nomenclatura “ancestral” após a designação do credo, porque não há necessidade disso.
Sabemos que tais vertentes religiosas possuem sua ancestralidade. No entanto, quando o assunto é Xamanismo verifica-se atualmente certa tendência à categorização, estabelecendo uma divisão entre Xamanismo Ancestral, Xamanismo e Neoxamanismo.
Primeiramente, cabe analisar se existe a possibilidade de praticar o tal Xamanismo Ancestral, isto é, tal qual praticaram nossos antepassados. Reflita por um instante e leve em consideração o tempo que se passou, a quantidade de elementos culturais e conceituais e todas as demais transformações que sofremos.
Somando a isto, some a dificuldade em acessar o conhecimento tradicional dos xamãs e a falta de registros arqueológicos que poderiam nos dar algumas pistas de como o Xamanismo era praticado outrora.
Sabemos que todo conhecimento xamânico vem sendo passado de mestre para discípulo e é mantido através das práticas e de um complexo ‘código de ética’ que mantém todo conhecimento restrito às pessoas indicadas para recebe-los.
O Xamanismo que é dito ‘ancestral’, cuja intenção é de reproduzir com a maior fidelidade possível a religiosidade dos nativos de outrora, pode não ser tão ancestral assim, porque é praticado no século XXI, e não há nisso um grande problema. As nomenclaturas Xamanismo e Xamanismo Ancestral são correlatas, sendo a última redundância desnecessária.
Com relação ao Neoxamanismo, a designação é mais sensata, pois esta vertente trabalha com as práticas xamânicas em união com outras egrégoras espirituais como o Budismo, Hinduísmo e o Cristianismo.
É legal saber quando se está em uma casa de Xamanismo ou em uma casa de Neoxamanismo, apenas pelo fato de que algumas pessoas vão em busca de práticas xamânicas tradicionais e não-universalistas.
“ Nada é permanente, exceto a mudança. ”
– Heráclito de Éfeso
O filósofo Heráclito de Éfeso, em sua contenda com Parmênides de Eléia, insistiu na ideia de que a impermanência é a única certeza da vida, ‘panta rei’, disse ele, tudo flui.
A natureza, através das estações e de seus processos, vem nos ensinando que tudo é de nascer e morrer, nada permanece o mesmo e com o Xamanismo não seria diferente.
Buscamos uma base segura em que possamos calcar nossas práticas. Honramos aquilo que disseram nossos antepassados, mas as mudanças são uma onda que não se pode deter e elas acontecem também dentro das práticas primitivas.
Particularmente, defendo que as tradições e suas peculiaridades devem ser respeitadas e mantidas custe o que custar, mas a forma como procederemos, o local em que as práticas acontecerão e quem praticará, isso é impossível permanecer o mesmo.
Assim, é preciso que haja um grande respeito pelo Xamanismo que praticamos hoje, porque esse é o resgate de um legado que nos foi deixado para que façamos uso dele em prol da Terra e daqueles que habitam nela.
O Xamanismo atual não é menos do que o de outrora: é apenas diferente, mas tão forte e tão verdadeiro quanto, os motivos pelo qual buscamos as medicinas nativas e os resultados continuam os mesmos.
A alma possui necessidade de ver a si mesma, de reencontrar-se e de estabelecer conexão com sua verdadeira face e esse é um dos principais trabalhos que o Xamanismo tem feito desde tempos imemoriais, um trabalho de reaproximação entre o eu e a alma.
O objetivo de quem busca continua o mesmo e, consequentemente, o resultado de quem alcança por meios idôneos permanece muito positivo.
Se fôssemos praticar o Xamanismo Ancestral ao pé da letra, nós, pessoas comuns, não poderíamos fazer uma série de práticas que hoje são ensinadas em cursos e treinamentos, porque estas técnicas eram exclusividade dos xamãs, pois só eles entravam em estado de transe para curar.
Dentre as transformações que sofridas, uma delas foi a expansão e o ensino das práticas para pessoas comuns que quisessem, em primeiro lugar, buscar respostas para seus problemas pessoais, sem precisar aguardar por um xamã, figura cada vez mais difícil de se encontrar.
A prática da sabedoria xamânica hoje é mais acessível.
É visível que uma nova forma de Xamanismo está se delineando, tão visceral e orgânica como antes. O que pode ser ensinado e falado é passado adiante; e o que não pode fica guardado entre os iniciados.
Sendo assim, os xamãs continuam tendo sua importância e seu lugar, e aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre esta forma de cura o fazem sem grandes mistérios.
Respeitar as tradições e o lugar do xamã dentro do Xamanismo que existe hoje, seja ele tradicional ou neo, é o básico para que esse conhecimento seja preservado no que o caracteriza como tal, e transformado no que não puder permanecer como antes e que essas nomenclaturas sirvam apenas como referência teórica, e não como um meio segregação entre os praticantes de Xamanismo.

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